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Nostalgia… Saudade Conformada

As pessoas sempre confundem os sentimentos de nostalgia e saudade, pensam que é a mesma coisa. Não é. Nostalgia dói mais que saudade, mais que bater com a porta nos dedos, mais que cólica de rim. Nostalgia é como o fim do dia: a única saída é se conformar, já foi. Saudade a gente aguenta, inquietamente, e logo a gente cura.
Saudade a gente sente quando entra em um ônibus para ir embora, saudade da pessoa amada que fica, mas sabe que vai voltar a vê-la. Nostalgia é quando após alguns anos, você se lembra desse momento, que às vezes até se repete, mas não é a mesma coisa…
Saudade é quando o ser amado foi embora, mas o amor ainda ficou. Nostalgia é quando o amor também se foi…
Saudade a gente sente quando deixa os pais em casa e vai morar sozinho, em qualquer canto desse mundo. Nostalgia é quando a gente lembra de quando eles jogavam bola ou brincavam de boneca com a gente…
A gente sente saudade da vovó, que mora longe e cada vez que a visitamos ela aparece com um monte de comidas gostosas. Nostalgia é quando já não se tem a vovó, mas ainda sentimos o gostinho das guloseimas que ela fazia…
Saudade a gente tem de um amigo que se mudou para outra cidade ou país. Nostalgia é o que sentimos ao lembrar das brincadeiras de quando éramos crianças, e saber que agora quem brincam são seus filhos…
A gente sente saudade da nossa casa quando viaja e fica um tempo fora. E nostalgia quando a gente lembra de tudo o que viveu ali, na casa agora abandonada…
Saudade a gente pode ter de um brinquedo, de andar de bicicleta. Nostalgia é o que sentimos quando nos lembramos de como era simples e feliz nossa infância…
Temos saudade de sentar na varanda à tarde com nosso avô e ficar jogando conversa fora. E nostalgia quando o avô se vai, anoitece, e esse momento não se repete mais.
Sentimos saudade dos nossos cachorros quando passamos um fim de semana fora. Nostalgia, quando lembramos deles pulando na gente, mas só vemos a casinha que está vazia.
Saudade é um sentimento urgente, nostalgia não tem solução: a gente só se conforma. Saudade é a ausência provisória de alguém, nostalgia é a ausência eterna de um momento.
“Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença” – dizia Lispector. Então, nostalgia é quando toda a comida cessou… (Karina Perussi)

Eu tenho uma certa nostalgia da época de escola, Colégio Santo Antônio, onde conheci o Leonardo, na época em que Léo era COGS e Vinícius era o ZACA. Aliás, ainda somos. Não para todo mundo mas para nosso mundo e círculo nostálgico, de amigos que nos conhecem desde a época do onça.

Naquela época ninguém fazia planos. O único plano era passar de ano. Eu nem sempre conseguia concretizá-los, nem ele. Uns zoavam os outros, matávamos aula, perdíamos média, brigávamos por futebol (na época em que no Mineirão ainda podíamos beber cerveja e comer o verdadeiro tropeiro) mas éramos felizes.

Hoje, a felicidade segue só que os planos mudaram. A vida fica mais séria e as responsabilidades tem um outro nome…. família. A mesma responsabilidade é também fonte de vida e de energia, isso é fato.

Se eu voltasse vinte anos no tempo e uma cartomante me dissesse que eu, em 2014, seria fotógrafo e que fotografaria o COGS com sua digníssima e seus dois filhos, aquele mesmo Léo só atleticano doente, só que já recém campeão da libertadores e um competente profissional entitulado Procurador da República Federativa do Brasil, eu soltaria uma grande gargalhada e gritaria:

– Truco, ladrão!

Principalmente por tudo que aconteceu comigo, menino criado para ser qualquer coisa, menos um fotógrafo “maluco”.

Lembrar do passado hoje é pura nostalgia. Ser fotógrafo é também uma forma de anestesiá-la já que o prazer de reencontrar com pessoas que fizeram parte da minha vida, e fazer com que elas voltem, no estágio mais maduro, fazer parte dela novamente, é algo que transforma a tal da nostalgia em saudade. Sinal que a comida não cessou. E saudade tem cura.

E que assim seja!

Meus agradecimentos a família (Leonardo – COGS, Natália, Caio e Helena que em breve estará conosco).















Comentários

Nossa! Como sempre ótimo! Descreveu completamente o que sinto, quando lembro dos finais de semana em uma roda de samba.

Vinícius, chorei com esse texto… que linda tradução de sentimentos!
Além de ser meu fotógrafo-inspiração, você é um excelente escritor, parece que tudo em você é emoção.
Quando eu crescer quero ser como você e aí talvez eu sinta saudade (ou nostalgia?) da época em que comecei a fotografar profissionalmente…

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